“Ora, Maria Antonieta parecia viver apenas para o prazer.
Quando o povo que penava e sofria, para quem o pão se tornara caro por causa dos anos de seca que comprometeram as colheitas, para quem os impostos se tornaram pesados para cobrir os déficits das finanças (…), para quem a vida era dura e o prazer raro ou desconhecido, via passar num grupo alegre, despreocupado e louco, em suntuosos trenós, ou em carruagens puxadas a trote veloz por sua soberba equipagem, a rainha, rodeada por seus favoritos, que ia à Ópera, ao baile, às corridas, à caça, ao jogo ou à comédia, ao pensar que era o fruto de seu trabalho duro que se ia assim, gasto em dissipações cotidianas, não se levantaria em seu coração como que um fermento de ódio e revolta? Como poderia deixar de maldizer aqueles que pareciam assim insultar seu infortúnio?
Como poderia deixar de lhes atribuir sentimentos egoístas, uma alma impiedosa para com os infelizes, e de dar crédito a todas as invenções da calúnia?”
(ROBERT, Henri. Grandes Julgamentos da História. Trad. Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 342).
Maria Antonieta, Rainha da França, foi guilhotinada em 16 de outubro de 1794, na Praça da Revolução (hoje Praça da Concórdia), diante dos olhos de cerca de trezentas mil pessoas.
O que mais nos preocupa, nesse exato momento, é assistir a repetição de fatos que levaram à insurgência do povo contra os seus governantes.
Miséria, fome e desemprego para o povo. E os atuais governantes, como os absolutistas passados, ainda vivem suas vidas de nababos, indiferentes à realidade dos seus administrados, servindo-se de iguarias refinadas dispostas em pratos luxuosos e refestelando-se com todas as comodidades patrocinadas pelo dinheiro público.
É bom destacar que o “dinheiro público” é justamente aquele que salta da mesa do trabalhador, e que por justiça deveria retornar ao mesmo em serviços públicos condizentes.
Vejo com assombro que o povo brasileiro já se insurge contra essa funesta ordem de coisas. Ainda que não saiba decisivamente como agir, sua indignação vem se manifestando nos impropérios dirigidos à classe política e outras castas; nas paralisações; nos movimentos sociais…
Governante inteligente ouviria a voz das ruas. Tudo faria para ser amado pelo povo, e não odiado. E as pessoas, em sua maioria, só querem ter uma existência decente, em que possam almejar melhoria contínua de vida através da educação e do trabalho digno.
Mas eles preferem se encerrar em seus castelos feudais, hipocritamente fingindo uma preocupação com o povo, enquanto este continua a se debater em sua luta pela sobrevivência
Em sua obra O Príncipe, o filósofo florentino Nicòlo Machiavelli (1469 – 1527) já afirmava que, para que um “príncipe” fosse louvado e não vituperado por seus súditos, ele deveria “(…) gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois esse é um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de bem reinar. (…)”.
Há semelhança com a realidade brasileira?
Bem, deixo a cada um a sua análise. Mas encerro com as palavras do filósofo fiorentino:
“Aquele que estudar cuidadosamente o passado pode prever os acontecimentos que se produzirão em cada Estado e utilizar os mesmos meios que os empregados pelos antigos. Ou então, se não há mais os remédios que já foram empregados, imaginar outros novos, segundo a semelhança dos acontecimentos”, dizia Machiavelli. (SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual sem virtù. In Os Clássicos da Política. Francisco C. Weffort (Org.). São Paulo: Ática, 1° vol. 4ª ed. 1993: pg. 19).
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